Entrei na trend “Como posso ser triste, se esse ano…”, e descobri que havia uma polêmica sobre ela, principalmente envolvendo psicólogos, que argumentavam que essa brincadeira estaria invisibilizando esse sentimento tão importante que é a tristeza, por isso resolve trazer para a newsletter uma reflexão sobre essa emoção fascinante e complexa.
Como todas as emoções, a tristeza existe para cumprir uma função: nos ajudar a sobreviver e nos adaptar às mudanças ao longo do tempo.
Ela atua como uma fonte de informação sinalizando sobre perdas significativas, seja de pessoas, objetos ou situações, e comunica a necessidade de:
reavaliar nossas prioridades;
nos adaptar a novas realidades;
buscar apoio social;
Geralmente a tristeza é acompanhada por manifestações comportamentais como choro, afastamento e silêncio; ela pode ser uma das emoções mais duradouras, mas também, como todas as emoções, não é permanente.
Culto à frustração e o comportamento ruminativo
Ficamos tristes quando nossas expectativas não são atendidas. E a frustração pode ser considerada um tipo de dor. Muitos estudos já conseguiram demonstrar que a sentimos nas mesmas regiões que nosso cérebro processa a dor física.
Quando uma pessoa enfrenta uma grande frustração, os circuitos neuronais da violência, do medo e do pânico são acionados, levando a um período de luto ou a um estado de melancolia, com pensamentos fixos e obsessivos no objeto perdido.
Temos uma tendência natural a alterar nosso funcionamento cerebral para enfrentar ou acomodar a frustração. Para essa difícil tarefa, a evolução nos equipou com a ruminação, uma ferramenta que consiste em pensamentos repetitivos focados em identificar o que foi feito de errado, para num próximo momento conseguirmos evitar esse estado emocional tão incomodo que é a tristeza.
A tristeza é incômoda porque não foi criada pra nós gostarmos dela.
A ruminação foi uma estratégia útil por muito tempo. Mas nos dias de hoje, onde as chances de ficarmos frustrados são muito maiores, essa prática pode acabar prendendo a pessoa num ciclo de pensamentos que não a deixam avançar. Com o tempo, esses pensamentos podem se tornar assustadores e fazer com que a pessoa evite enfrentar os problemas.
Regulação emocional e socialização
A tristeza, por ser considerada uma emoção negativa, no sentido de naturalmente não gostarmos de senti-la, por que sinaliza que algo está desajustado/ desadaptado/ incomodando; exige uma habilidade de enfrentamento que chamamos de regulação emocional.
Existem várias abordagens terapêuticas que podem ser utilizadas para a regulação emocional, como a reestruturação cognitiva, que envolve mudar a forma como pensamos sobre situações para reduzir o impacto emocional negativo; atividades de lazer, sociais e esportivas, e a prática regular de exercícios físicos, são recursos valiosos para melhorar o humor e a saúde mental.
Mas o principal recurso de regulação emocional para a flexibilidade cognitiva é a aceitação. A aceitação significa reconhecer e permitir que a tristeza (e todas as emoções desafiadoras) exista sem tentar negá-la ou lutar contra ela.
Em vez de resistir à emoção, e negar a realidade (negação), aceitamos que a tristeza e a frustração fazem parte da experiência humana e ao aceitá-las, redimensionamos a dor, e abrimos espaço para escolher intencionalmente sobre como queremos seguir.
A aceitação é empoderadora. Ela nos permite observar nossos sentimentos sem julgamento, facilitando a adaptação e a resolução de problemas de forma mais eficaz.
A tristeza é natural, importante e saudável. Estará presente em todas as fases da nossa vida, e é transitória. Uma tristeza que “não passa” está disfuncional, ou seja, não está cumprindo com a sua função de maneira eficaz.
Nesses casos, a pessoa que vivencia esse cenário precisa de ajuda para regular suas emoções. A psicoterapia pode ser uma grande aliada nesse processo, oferecendo estratégias adaptativas para lidar com a tristeza de forma saudável.
Se você conhece alguém que está com dificuldade de lidar com a tristeza, ofereça suporte. E se você mesmo estiver precisando, não hesite em pedir ajuda. Lembre-se que ninguém precisa lidar com tudo sozinho.
Até a próxima newsletter.